Os desafios dos efeitos da pandemia no ambiente condominial

25

mai | 2021

Os desafios dos efeitos da pandemia no ambiente condominial

Não há como negar que a pandemia do novo coronavírus, que teve início no Brasil em 2020, mostrou ao mundo inteiro que não estávamos,e sequer nos preocupamos em estar, prontos para eventos dessa natureza, que em nossa noção de realidade não passavam de dramáticas produções hollywoodianas.

Em questão de dias a pandemia colocou de joelhos potências políticas e econômicas em todo o mundo. Já países mais fragilizadosviram-se frente a um verdadeiro cenário apocalíptico, onde restou visceralmente exposta a incapacidade de reação,não só por insuficiência de recursos financeiros, mas também de tecnologia e desenvolvimento científico capazes de minimamente suprir as necessidades básicas de seus povos, garantido meios efetivos de íntegra sobrevivência.

Quando não alcançados pela morte, milhares foram lançados à condição de miséria e desemprego em todo o mundo.Para um desfecho ainda mais preocupante, ao longo desse processo,os entraves e interesses políticos desfavoreceram ainda mais o limiar da esperança.

Teorias sobre a origem da pandemia à parte o fato é que a esperada solução da vacina é uma realidade que nos foi proporcionada em tempo recorde e devolveu a todos não só aconfiança, masa expectativa de um breve retorno à normalidade e aos hábitos diários de antes.

Mas o fato é que teremos que conviver por muito tempo com os efeitos da pandemia e talvez alguns hábitos e procedimentos tenham sido inseridos em nossas vidas de forma definitiva.

As relações sociais sofreram transformações inegáveis e não há como deixar de trazer para o ambiente condominial um enfoque sobre estas mudanças

Já no início da crise pandêmica uma drástica mudança de comportamento foi logo imposta: o distanciamento social.

A vida em condomínio implica necessariamente em relações sociais intensas. O convívio na piscina, eventos na churrasqueira, o futebol na quadra, a recreação no parque infantil, os eventos e festas sociais e até mesmo a circulação nas áreas comuns foram cerceados em benefício e no resguardo da saúde de todos.

Mas odistanciamento social desencadeou uma série de eventos que afetaram circunstancialmente as relações em condomínio.

A perda de renda, por conta do desemprego, passou a refletir grande preocupação dos síndicos, tendo em vista o risco de tal fato afetar a saúde financeira dos condomínios, o que exigiu um acompanhamento rigoroso da previsão orçamentária, com a redução de despesas não-essenciaise aumento do volume de negociações e avaliações de casos pontuais no condomínio.

Dessa forma, a ação precisa dos gestores e síndicos frente ao desafio da manutenção das contas condominiais em dia levou o segmento a contar com o menor índice de inadimplência em dezembro/2020, que fechou em 2,17%, o menor patamar em 16 anos segundo a Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo – AABIC.

 Sob outra ótica, o distanciamento social como ferramentaa fim de evitar o contágio entre moradores, funcionários e prestadores de serviços exigiu a tomada de decisões enérgicas nas estruturas dos condomínios, que apesar da importância da contenção da circulação de pessoas e do uso das áreas comuns, são sempre tidas como medidas impopulares por muitos.

Nessa mesma linha a fiscalização realizada pelos condomínios, diante da ausência do uso de máscaras e da insistência no descumprimento das regras, muitas vezes leva à necessidade de adoção não só de medidas orientativas e preventivas mas também da aplicação de multas pecuniárias baseadas na convenção condominial e no regulamento interno.

O isolamento social, imposto pela pandemia, também provocou considerável aumento do número de pessoas que permanecem em casa, bem como do número de trabalhadores que adotaram de maneira definitiva o regime home-office, desencadeandoum crescimento considerável de reclamações e conflitos.

Problemas com barulhos, a qualquer hora do dia ou da noite, de obras, festas no interior das residências, crianças, animais domésticos, músicas altas, esteiras de academia montadas na sala, instrumentos musicais, conversas e gargalhadas em tonsaltos entre amigos e até mesmo acaloradas discussões e desentendimento entre casais, que passaram a dividir o espaço por mais tempo durante o todo o dia, entre outros problemas, passaram a gerar não só o aumento do número de reclamações dirigidas aos síndicos como também, muitas vezes, se desdobram em confrontos diretos entre os condôminos, culminando não raro em agressões tanto verbais quanto físicas, estressando e colocando em risco não só as partes, mas toda a comunidade condominial.

Dessa forma, o aumento de conflitos entre moradores de condomínios vem exigindo dos síndicos e zeladores uma atenção maior ao âmbito da convivência e uma postura ainda mais conciliadora, a fim de reduzir a incidência bem como proporcionar meios de soluções dessas desavenças.

De tudo o que se viu até agora é que, com muito esforço, temos dado passos firmes e consistentes em todas as direções, no que diz respeito à prática de gestão e convivência condominial e que os fatores negativos têm sido superados de maneira muito efetiva,apesar de todas as dificuldades até então apresentadas.

As assembleias virtuais foram implantadas de forma a socorrer a necessidade da substituição do encontro presencial para a definição de temas importantes, e que não podiam esperar. Apesar dos percalços iniciais esta ferramenta tem mostrado contornos de implantação definitiva no segmento.

A criação de outros mecanismos tecnológicos trouxe a todos maior familiaridade no seu manuseio e inseriu a prática de atos por meio digitais como pagamentos, recebimentos, assinaturas, prestações de contas, tomadas de preços entre outras funcionalidades.

Também no âmbito condominial o ciclo da pandemia do novocoronavírus certamente deixará tristes marcas, mas cabe a todos os que integram este segmento, sejam incorporadoras, construtoras, investidores, condôminos, moradores, prestadores e gestores, continuar a transformar as ameaças em oportunidades e as fraquezas em forças, para que, de maneira estratégica, possamos sair desse contexto ainda mais fortalecidos. Afinal, fortes nós já mostramos que somos!

Ricardo Montu

Ricardo Montu

Advogado. OAB/SP 195.451. Possui graduação em Direito pela Universidade Cidade de São Paulo (2001). Pós-graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009). Foi professor de graduação e pós-graduação do Centro Universitário Radial, Universidade Estácio de Sá, Universidade São Camilo e SENAC. Possui experiências profissionais nas áreas de Direito, Administração de Empresas e Contabilidade.