Se eu for falar de amor...

06

mai | 2020

Se eu for falar de amor...

Se eu for falar de amor não posso esquecer daquelas pessoas que até ontem não tinham voz, rosto, existência.  Pessoas em quem mal pensávamos e quando pensávamos era mais para desprezar, chamar de “funcionário folgado”, preguiçoso.... Não queríamos saber de suas reclamações por “melhores condições de trabalho”, tampouco saber que ganhavam infinitamente menos do que qualquer assessorzinho parlamentar da Câmara Municipal de São Paulo. Era quase com raiva que queríamos saber que eles estavam entre nós e que suas vozes eram irritantes... Não tinham nada do que tínhamos.

Mas tinham coração... E começamos a perceber que esses corações eram tão grandes que mal cabiam nos peitos que os portavam e muitas vezes não suportaram o tamanho desse amor e deixaram de bater para que pessoas que nunca souberam que esses corações existiram pudessem ir para casa. Respirando... E então não foi demais reconhecê-los como “heróis...”

Se eu for falar de amor não posso esquecer o desprezado ser que a gente pensa o mais baixo degrau da escala social que é o lixeiro e que nem mesmo no Natal conseguimos dar um presente para esse pessoal... Levando longe de mim os males que acumulo em casa, mas de quem não quero nem chegar perto porque eles também parecem não existir, passam correndo e gritando e rindo... E eles riem, ainda...

Mas que de repente notamos que eles também existem e começamos a pôr bilhetes de agradecimento por recolherem aquilo que para nós significa nada, significa pouco ou significa sujo, mas que se deixado para trás terão significados feios, fedidos, funestos. E não mais que de repente começamos a sentir que aquelas pessoas que não costumávamos ver estavam ali fazendo o bem para mim e isso me enterneceu e eu quis deixar um bilhete de agradecimento...

Se eu for falar de amor não posso esquecer daquelas pessoas de mais idade esquecidas dentro dos apartamentos, sem companhia, muitas vezes, e que sem dúvida foram importantes para muita gente, mas se tornaram estorvos para famílias inteiras que as punham em asilos na esperança de que elas morressem logo e não custassem muito caro, ou então vivessem seus últimos dias esquecidas em seus apartamentos...

Mas que de repente seus vizinhos começaram a deixar mensagens oferecendo ajuda, e a levar um prato de comida quente e fazer compras para esses idosos abandonados, e perceberem que essas pessoas existiam e tinham sorrisos em troca de favores e que esses sorrisos eram mais importantes do que pagamentos e esses vizinhos puderam sorrir, também...

Se eu for falar de amor devo acreditar que solidariedade é um seu sinônimo porque não pode haver outra explicação quando um professor de educação física, no fim fundo da favela da cidade sobe em sua laje e chama quem quiser para fazer ginástica sem pagar nada, simplesmente porque ele pensa que ali dentro daquelas casas simples tem gente simples e entristecida e que sua forma de ajudar é fazer os outros fazerem aquilo que ele sabe fazer.

E percebemos que esse movimento de reconhecimento, essa redescoberta do outro acontece de forma planetária, como aquele outro professor de educação física na Espanha que chamou seus vizinhos confinados para se exercitarem em suas varandas e não se deixarem deprimir pela desgraça que se abate sobre todos nós. Ou como aqueles italianos que descobriram que tem vizinhos e que às tardes saem nas varandas de seus confinamentos para cantarem todos juntos músicas italianas e descobrir que ali na frente tinha um vizinho. Ou como aqueles parisienses que marcavam o aperitivo coletivo da sexta-feira, cada um em sua varanda confinada e que se saudavam, brindavam, trocavam impressões, sugestões e títulos de livros...

Se eu for falar de amor não posso esquecer que do outro lado da rua existia alguém e que eu não sabia, não queria saber, porque eu tenho minha tribo e minha comunidade na internet e que eu tinha a impressão que eu jamais precisaria saber da existência alheia àquilo que não vai além de meu umbigo...

Se eu for falar de amor eu preciso ouvir aqueles que não tinham voz, mas lutavam para melhorar a minha condição de atendimento no hospital, a coleta de lixo e tratamento sanitário, a minha convivência social e a minha maneira de existir...

Se eu for falar de amor tenho que admitir que da desgraça surgiu a Graça e isso fez que eu visse que o outro é um eu e em seu peito pode ser o meu coração e esse coração pode parar para que um outro continue batendo...

Se eu for falar de amor, posso não amar a Deus, mas devo acreditar que depois disso tudo existe a razão irracional que não me deixa não amar o próximo...

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Charles Le Talludec

Charles Le Talludec

Charles Le Talludec - Advogado